sábado, 10 de julho de 2010

Meninos feiticeiros


A brasileira Renata, que mora em Luanda há seis meses, nos levou para conhecer o Centro de Acolhimento Arnaldo Janssen , que atende 130 meninos com até 18 anos. Criado há 15 anos, no início o centro tinha como principal foco atender órfãos de guerra. Hoje o maior motivo para as crianças estarem lá é a pobreza e a ignorância.

A pobreza dispensa explicações. A ignorância é evidente no fato de, em pleno século XXI, crianças serem espancadas, ameaçadas de morte a ponto de fugirem de suas casa por serem acusadas de feitiçaria. A irmã Rosa, responsável pelo centro, nos explicou que muitas famílias acreditam que meninos muito agitados, temperamentais ou até mesmo inteligentes acima da média são acusados de ser feiticeiros e por isso vão parar nas ruas, onde assistentes sociais os encontram.

Por mais que essa prática esteja ligada a tradições milenares é revoltante ver a humilhação e abandono por que passam essas criança. Alguns chegam a se convencer que são feiticeiros mesmo e não merecem estar no seio da família, outros querem voltar e são renegados quando se tenta uma mediação do Centro com a família. Pior ainda é saber que a maioria das famílias são cristãs e já abandonaram muitas das práticas religiosas de seus antepassados, mas na hora de atingir as crianças são tão devotas às antigas crenças. Sábio, Seba que diz que “as pessoas buscam saída para sua miséria colocando a culpa nos miúdos”.


Joana Neitsch

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