sexta-feira, 16 de julho de 2010

Candongando para Talatona



Antes de virmos para Angola recebemos todo tipo de conselho. Sobre o transporte público, fomos avisadas que quase não há autocarros (como chamam os ônibus). A principal alternativa é a candonga, que os angolanos chamam de táxi, mas são peruas brancas com azul piscina, já citadas aqui, dirigidas por particulares, nada têm a ver com o governo.
Alguns alertaram: não ande de candonga em hipótese alguma! Diziam que podíamos ser assaltadas, que não dá para saber o roteiro, que um tumulto para embarcar, que os homens podiam se aproveitar de nós por causa do aperto nos bancos e que não é aconselhado pela Embaixada Brasileira, nem pela ONU. Outros mais aventureiros, principalmente jornalistas, diziam que dá para andar sim, é tranqüilo, só prestar atenção.
Nossos primeiros passeios de candonga foram com amigos angolanos. Mas essa semana precisamos sair só as duas. Na primeira vez fomos ao centro, perto de casa, em uma rota que já conhecíamos. No dia seguinte precisamos ir para Talatona. Um município vizinho, mas que nem se nota a fronteira (até porque as divisões territoriais de Luanda são bem confusas). Talatona merecerá um postagem à parte, mas é bom dizer que, além de longe, é um bairro mais nobre, onde há muitos condomínios fechados, sedes de empresas e o único shopping da cidade. Para quem é de Floripa, da para estimar a distância, como entre o centro da Ilha e a Palhoça. Com trânsito caótico pode levar horas.
Pois bem, acordamos 6h30 e às 7h15 da manhã, pegamos a primeira van. Os cobradores ficam na calçada gritando o destino: “Aeroporto, Aeroporto”; “Maianga, maianga “; “Zamba II, Zamba II”. Com certo esforço se descobre qual carro vai para o nosso destino. Puxam as pessoas da calçada. Só sai quando estiver lotado e nisso ficamos esperando uns 20 minutos. Sorte que uma angolana lembrava "Moço, tem transito, vamos chegar atrasados". Em cada fileira de bancos se apertam umas quatro pessoas e vão mais duas com o motorista na frente.
A trilha sonora tem kuduro, semba, pagode e sertanejo brasileiros, a Shakira cantando o tema da Copa e até MPB! As pessoas que usam são a grande maioria da população, senhoras indo trabalhar, levando os filhos à escola, estudantes e alguns pulas mais aventureiros ou necessitados. Realmente algumas entram bem apressadas, principalmente quando há muita gente para poucos lugares. Mas nada que não seja visto em ônibus ou metrôs do Brasil.
A vantagem é que os motoristas costuram o trânsito como podem para vencer os congestionamentos. Melhor não pensar nas conseqüências que isso pode ter, nem na última vez que foi a manutenção.
Fizemos baldeação em pontos poeirentos, perto dos musseques (como chamam as favelas aqui). A mesma gritaria para atrair passageiros. Contamos com a ajuda dos cobradores que nos davam informações antes mesmo pedirmos e com pessoas nos pontos que no meio do tumulto foram ágeis em no dar informação.
Chegamos a Talatona após três candongas. Quase no portão da multicnacional, tirei o chinelo de dedos, limpei a poeira dos pés com algodão, calcei o salto, ajeitei o cabelo e chegamos 8h55 para a entrevista que seria às 9h. Me sentia uma vitoriosa!
Na portaria, descobrimos que era o local errado, tomamos mais uma candonga e por fim um carro turismo (carros pequenos, sem identificação, que oferecem transporte alternativo). Meia hora de atraso, completamente tolerável para Luanda que tem tradição de atrasos por conta do trânsito. Após quatro candongas, um carro turismo e 1100 KW (equivalente a 11 dólares) chegamos a nosso compromisso. Até nosso amigo angolanos duvidaram que conseguiríamos. Tem muito brasileiro que mora aqui há anos e nunca andou de táxi e nos olha com um misto de admiração, uns até nojo. Outros confessam que queriam andar para ver como é.
Não cabe slogan “rápido, confortável e seguro”, mas dá para dizer que é ágil, divertido e um bom ponto para enxergar Luanda.
Joana Neitsch

Fotos:
1. Candongas na Mutamba, no centro da cidade
2. Candongas no ponto perto da nossa casa, onde começou a viagem para Talatona

6 comentários:

  1. Essas candongas lembram bem as lotações em São Paulo no fim dos anos 90. Era uma loucura, só saiam quando lotadas, os "cobrinhas" gritavam chamando passageiros e o pagode a la Soweto e Belo era tema da viagem. Claro que 98% disso acabou, mas os ônibus e metrôs continuam lotados. Boa viagem meninas !!!

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  2. Pôoxa!muito legal, pois é realmente nada diferente das vans em SAMPA, mas deve realmente ser muito divertido.É isso ai moça!!!

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  3. Sinceramente, não era divertido não. Fora o desconforto, o risco de acidentes era muito grande. Mas acabou, agora só temos os ônibus e metrô super lotados...ui

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  4. É isso ai judas... A unica pessoa que deu-vos toda força para andarem de KANDONGUEIRO ou ZÉ NDONGA (nova gíria) é esquecido no texto que chato. Para quem atravessa o Atlântico ate Angola o que é andar de Kandonga ate ao Talatona???

    OBS: Kwanza abrevia-se Kz

    Seba Lopdel

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    1. Sou brasileiro e nunca fui a Angola.Mas confesso que adoraria conhecer o país ,como de fato farei brevemente.

      Sebalopdel, o Africano é um povo muito querido e bem visto pela grande dos brasileiros que residem aqui.O Povo brasileiro é um dos mais miscigenados do mundo, onde a influencia afro é forte.

      Somos nações irmãs. Eu, pessoalmente, acho o africano mágico e tenho grandes amigos africanos aqui no Brasil, e nigerianos também. Essa troca é fantástica!!

      Se por ventura encontrar por aí um desses brasileiros que se acham superiores e falam besteira, não de idéia nem confiança.No fundo mesmo , eles querem se auto afirmar, se sentirem exlusivos...coisa de pobreza espiritual.

      O povo brasileiro, assim como o africano, é em geral hospitaleiro e amistoso.

      Sebe, grande abraço do Brasil. Amamos Vocês.

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  5. Seba, você é a pessoa mais citada no blog..é praticamente dedicado a você!
    Só não quis te trazer problemas,como você pede, dizendo que nos influencias a andar de candonga!

    hahah

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