Tem lugares que a gente sonha conhecer de tanto ver em fotos e ouvir falar. Tem aqueles desejos pessoais, conhecer a terra da mãe ou da avó ou um lugar que um amigo foi e voltou falando tão empolgado. A Praia do Bispo estava em meu imaginário desde que o sonho de Luanda começou e fui alimentá-lo nos livros do escritor angolano contemporâneo Ondjaki, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente na Ufsc. O desejo de ir a esse lugar vinha de um encanto pessoal e, ao mesmo tempo, na curiosidade de ver o local escolhido para guardar os restos mortais do Presidente Agostinho Neto, que assumiu logo após a independência de Angola, em 1975 e ficou no poder até 1979, quando faleceu.
Nos livros Bom dia Camaradas e Avó Dezanove, o escritor narra as brincadeiras dos meninos na Praia do Bispo, da construção do Mausóleu, feita pelos soviéticos. Mistura a ilusão das brincadeiras de criança e questões políticas do jovem país que se construía, sob influência do regime socialista.
Na quarta tivemos oportunidade de ir à praia do Bispo. Já era noite e o Mausoléu, que tem uma torre que se vê de longe, era uma sombra na escuridão. Há vários postes de iluminação pública, mas estavam todos apagados. A luz na rua vinha das casas e dos carros. O bairro tem construções portuguesas grandes e bem conservadas e fica aos pés do morro bem iluminado, que abriga a casa do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Teremos que voltar outro dia para ver melhor o Mausoléu e fazer uma foto. Não houve decepção porque estávamos com o Gomes, que morou ali na infância e veio contando as suas histórias. Foi como se um dos meninos do livro do Ondjaki estivesse ali a nos contar suas peripécias de infância. Mostrou a casa do vizinho general que implicava com a música alta, encontrou vários “gajos que conhece desde miúdo” e indicou os mercados mais antigos e padaria de uma brasileira casada com um angolano que, segundo ele, fornece os pães do presidente.
Joana Neitsch
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