Jú me disse que achou a cidade cinza e bege. Tentei nos explicar o porquê disso. Nessa época do ano, aqui é o cacimbo, estação que mais se aproxima do inverno. Continua calor, ontem vi 26° e 29° em termômetros na rua. À noite venta, é bom vestir um casaquinho. Entre junho e setembro chove pouco. O céu não fica bem azul, tem poucas nuvens, mas parece encoberto por uma neblina.
Além disso, tem a famosa reconstrução. Muitas obras, prédios inacabados ou mal conservados. Mais tonalidade cinza. E as muitas ruas barrentas, mesmo, as asfaltadas tem buracos e má conservação e fica a poeira no ar.
Não é só cinza e bege. As ruas de Luanda têm muita estampa colorida. Vestidos de senhoras mais velhas que insistem em vestir os tradicionais panos africanos, misturados com jovens miúdas e miúdos, que se preocupam em andar na moda. Moda que veem em canais de TV do Brasil. As cores estão impressas nas calçadas, onde se vendem bananas, roupas, lenços, pães, havaianas, amendoim, bacias, laranjas, o que houver para vender.
Mesmo no domingo à tarde os vendedoras estavam pelas ruas, com suas bacias na cabeça. E em pleno domingo à tarde já sentimos o trânsito de Luanda. Fila. Por sorte nossos amigos conheciam outras rotas e dessa vez escapamos de passar horas no trânsito. Foi sorte, aproveitamos para ver de longe a Baía de Luanda e tirar algumas fotos.
Aqui é difícil diferenciar quem é pobre ou classe média ou mesmo rico. As ruas que parecem de favela, saem em outras um pouco mais largas e calçadas, que têm tropas (policiais ou seguranças particulares) nas calçadas para cuidar das casas de pessoas importantes. Os tropas e os outros moradores também se distraem assistindo TV nas calçadas mesmo. Sábado à noite só dava uma novela mexicana, com aquelas encantadoras dublagens melodramáticas, pelas ruas que passamos.
A cor das ruas de Luanda também é de música. O familiar Martinho da Vila, as também familiares músicas de balada em inglês que aqui a gente ouve involuntariamente, como no Brasil, em sons altos de carros.
Um fim de semana e parece uma era. Muita informação. Muitas cores. E ainda não nos acostumamos à diferença de quatro horas do fuso.
Joana Neitsch