terça-feira, 10 de agosto de 2010

Músico angolano fala do intercâmbio do seu país com o Brasil

Em nossas andanças por Luanda conhecemos muito brasileiros que investem e se aventuram por lá. Mas também procuramos angolanos que têm uma relação mais próxima com o Brasil. Foi assim que tivemos a oportunidade de conhecer o músico Filipe Mukenga.

A relação dele com a música brasileira vem desde os anos 80, quando Djavan gravou sua música Humbiumbi. De lá para cá, Mukenga fez parcerias e teve músicas gravadas por outros artistas brasileiros como Maurício Mattar, Fundo de Quintal, e em seu último disco Martinho da Vila, Ivan Lins e Zeca Baleiro.

Há quem ouça Filipe Mukenga e considere sua voz e a maneira de cantar muito semelhantes a Djavan ou Milton Nascimento. Ele explica que a forma como canta vem de longe, antes mesmo de conhecer esses cantores, mas os admira muito. Suas preferências também passam por Gilberto Gil, Martinho da Vila, Emílio Santiago e Simone.

Mukenga lembra que as relações culturais entre os dois países não são de hoje. A música brasileira está há séculos ligada com Angola, sua matriz vem de lá. Em suas recordações, canções do Brasil sempre fizeram sucesso. “Era miúdo e escutava Angela Maria. Nós conhecemos Pixinguinha, Luiz Gonzaga”.

Ainda que tenha feito parcerias com muito brasileiros, o músico acha que o Brasil se fecha e não deixa que outras culturas entrem. “Vocês conhecem muito pouco de Angola. Conhecem Liceu Vieira Dias, Elias de Aquimuerto, Lurdes VanDúnen, N’gola Ritmos”? Cita grandes nomes da música angolana, que pouco se ouve falar, para não dizer nunca, no Brasil.“Há necessidade de um intercâmbio maior. Para que possamos nos conhecer mais. O Brasil tem tanto a ver com África, sobretudo com Angola, mas se fecha. Mas música americana entra sem pedir licença”.

Na terra onde as candongas circulam ao som de kuduro, o cantor e compositor lamenta: “As pessoas estão mais voltadas para música que as põe a saltar e não transmite nada”. E tenta explicar: “Talvez o motivo seja a vida agitada, o estresse. É um fenômeno em todo o mundo”. Mas para Mukenga, a primeira preocupação não é fazer música para dançar, ainda que reconheça que algumas de suas músicas perfeitamente dançáveis.


Como acontece com muitos artistas brasileiros, Mukenga é mais reconhecido no exterior que em sua terra natal. Para ele, seu trabalho “foge ao habitual” e não se preocupa com grande aclamação, acredita na música como “veículo de transmissão de conhecimento e cultura”. Seu estilo é o que chama de Nova Música d’Angola, rica não só no conteúdo, mas no ponto de vista da harmonia, com acordes invertidos, dissonâncias e características do jazz.

Seu quarto CD, o mais recente, foi lançado em setembro de 2009 e teve 5 mil cópias, esgotadas rapidamente. E ele está a espera de uma tiragem de mais 10 mil discos. O disco gravado no Brasil e produzido por Zeca Baleiro. O selo é da Editora Ginga, do empresário brasileiro Raymundo Lima que está há 10 anos em Angola.

Quando chegar a nova remessa, a sessão de autógrafos será no Largo Primeiro de Maio, diante da estátua do ex-presidente Agostinho Neto. Em Luanda, lançar um CD é passar pelo Largo da Independência. Como isso não aconteceu, há quem diga que o trabalho ainda não foi lançado.


Com 46 anos de carreira, Filipe Mukenga não consegue viver de sua música. Trabalha em um cargo comissionado, prestando consultoria ao Ministério da Cultura.

O músico planeja vir ao Brasil ainda esse ano, provavelmente em setembro.


Joana Neitsch

2 comentários:

  1. Juliana/Joana

    Parabens pelo blog... vc foi , voltou e não me apercebi... todo o pessoal que trabalhava comigo em Angola voltou antes de vc ter ido. Por isso náo poderia lhe ajudar com hospedagem. Mas vi que deu tudo certo ao que parece...como dizem em Angola, "estamos juntos"... kisses

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  2. parabéns meninas. que bom que o blog continua. sempre leio todos os posts e gosto muito de saber as impressões de vocês. continuem escrevendo assim...

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