O mercado dos Congolenses é outro local de distribuição das mercadorias que chegam de fora. Nada comparado ao mercado Roque Santeiro, nem mesmo parecido. Na verdade, é apenas uma rua de chão batido, perpendicular a uma avenida muito movimentada. Lá é possível encontrar zungueiras (como são chamadas as vendedoras de calçada) vendendo cremes, xampú, frutas, verduras, talheres, calçados.. comprados em armazéns da região e mesmo no Roque. Esse foi um dos destinos de um executivo brasileiro, gerente financeiro da Brasil Foods na África, por conta de reclamações de clientes devido à maneira como os alimentos estão sendo vendidos.
Conversar com as zungueiras não é fácil. E não é porque elas não queiram falar. Gomes teve que ser tradutor de português brasileiro para português angolano, a única vez que aconteceu isso em Luanda. Apesar do nome congolenses, as pessoas que moram nessa região não nasceram no Congo. Eles moravam na fronteira com esse país. Por conta de conflitos foram retirados de lá e o governo angolano colocou-os nesse bairro.
Outro problema é que, enquanto os vendedores te dão atenção, estão de olho na chegada da polícia que os expulsa e leva toda a mercadoria. Tirar as vendedoras das ruas é uma das medidas de “higienização” do governo. A polícia passou, deu um susto, mas não fez nada dessa vez.
Protegida pelas grades de um condomínio antigo na mesma rua, Lorença Francisco, 37 anos, há 15 é quingla - compra e vende dólares - além de saldo para telemóvel. Já foi presa uma vez, ficou três dias, até que pagou fiança e foi liberada junto com seu dinheiro que sobrou. Ela adora roupas brasileiras, mas pagar 30 dólares por uma blusa não dá, “então compro as de 300 kwanzas”.
O terreno do condomínio formado por dois prédios antigos e semi cercado por grades é que abrigava todos os comerciantes da região. Mas as reclamações do síndico fez com que quase todos fossem colocados para fora.
Além das quinglas, como Lorença, os meninos que fazem as unhas deles e delas também se instalam seus banquinhos ali. Se as mulheres dominam a zunga, são os homens que fazem o serviço de manicure. Severino, 18 anos, está no ramo há seis. Cobra 300 kwanzas para colocar unhas postiças e pinta-las. Nos salões de beleza, cobra-se dez vezes mais. Vanda Pereira, que quer estudar Informática no Brasil, prefere vir até os Congolenses: “É mais barato e eles não acham ruim quando pedimos para ajeitar se não ficou bom, as mulheres já fazem cara feia”.
Juliana
Fotos: Do Porto para as ruas de Luanda: nenhum problema com o comércio informal
Lorença, protegida da polícia pelas grades.
Crédito: Juliana